A instalar na freguesia de Amor, numa área de cinco hectares, este é um investimento da espanhola Genia Bioenergy e que tem a AMBILIS (organização que representa os suinicultores do concelho) e o Município de Leiria como parceiros estratégicos, tendo as três entidades assinado um acordo de promoção do projeto.
Presente na sessão, o Secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues, salientou a importância do projeto, após a assunção de um compromisso tripartido, em que as entidades “demonstraram um interesse embrionário em que as vontades públicas e privadas encontrassem soluções”, manifestando o desejo de que, em 2055, “se possa ver o sucesso do trabalho de 30 anos”.
Já para Gonçalo Lopes, Presidente da Câmara Municipal, “é aqui assumido um nível de compromisso nunca antes alcançado nesta região e que me parece ser o fator crítico para o sucesso deste investimento e consequentemente para a melhoria da qualidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Lis”, acrescentando que, de acordo com um estudo recente, a poluição do principal rio do concelho “é de longe o maior problema ambiental” que preocupa os leirienses.
“Reduzir drasticamente as emissões, sermos mais eficientes e capazes de aproveitar os recursos e apostar na economia circular” foram os objetivos destacados por Gabriel Butler, Presidente da Genia Bioenergy, para quem o projeto “traz valor a todos os atores” e “vai trazer impacto muito positivo para todos os intervenientes”, incluindo para os produtores, que “podem melhorar a sua competitividade e qualidade animal”.
Também David Neves, Presidente da AMBILIS e da Federação Portuguesa de Associações e Suinicultores salientou a relevância do projeto: “Este é um dia particularmente importante para o setor, para a região e para o país, porque conseguimos apostar numa alteração do paradigma do futuro da suinicultura”, já que “a partir de hoje, vamos poder tratar o efluente, vamos passar a olhar para o resíduo como um resíduo, e vai resolver de uma vez por todas um conjunto de problemas”.
Com o pelouro do Ambiente, Luís Lopes, vereador da Câmara Municipal, defendeu que o projeto pretende tornar o setor mais próspero e ser “uma referência ambiental”, o qual envolveu todas as entidades públicas e privadas, “para que fosse credível e possível encurtar no tempo o que não conseguimos nas últimas décadas”, reforçando o compromisso existente entre o Município, o setor, as empresas e a comunidade.
Inserido no Plano de Ação, Valorização e Sustentabilidade do Município, este projeto tem como objetivo converter efluentes e subprodutos orgânicos dos setores pecuário e agroalimentar em biometano e também em biofertilizante orgânico e água tratada para fins agrícolas e de combate aos incêndios florestais.
Esta tecnologia é completamente natural e madura e já amplamente utilizada na Europa, onde existem mais de 20 mil instalações, sendo um processo que decorre em estruturas fechadas, chamadas de digestores, onde as bactérias decompõem os subprodutos e produzem as três matérias pretendidas.
O biogás obtido neste processo de tratamento e de valorização orgânica é submetido a um novo tratamento de purificação, com eliminação do dióxido de carbono e de gases marginais, obtendo-se, então, o biometano, um substituto renovável do gás natural de origem fóssil, que poderá ser integrado na rede de abastecimento do concelho e satisfazer cerca de 35 por cento das necessidades.
A parte líquida é então convertida em água completamente tratada e em adubos orgânicos e o resultado sólido em corretivos orgânicos para aplicação na agricultura, o que permite reduzir a utilização de adubos químicos e uma produção agrícola mais sustentável, fechando o ciclo de economia circular.
Para além do correto tratamento e valorização dos subprodutos orgânicos, este processo oferece elevadas vantagens ambientais, como a redução das emissões de gases com efeitos de estufa e o bem-estar dos animais, para além de evitar odores desagradáveis e a proliferações de insetos.
Contribui também para a descarbonização da economia ao substituir o gás de combustível fóssil por gás renovável e evita ainda a poluição dos solos e dos aquíferos.
Por outro lado, a construção desta unidade vem responder às exigências dos suinicultores do concelho quanto a soluções para o encaminhamento dos efluentes das suas produções e irá permitir melhorar a sustentabilidade do setor e contribuir para a sua descarbonização.
O projeto prevê também a criação de um centro de I&D, para investigação de novos processos de produção e de utilização de fertilizantes a partir das matérias resultantes, em colaboração com centros de investigação locais, e de um posto de abastecimento para veículos movidos a gás.
Com um investimento direto de 25 a 30 milhões de euros e a criação de até 65 postos de trabalho diretos e indiretos, a instalação desta infraestrutura já se encontra na sua fase de licenciamento, prevendo-se que o início dos trabalhos possa decorrer num prazo de um ano, para entrar em funcionamento em 2025.